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Resíduos de medicamentos geram negócios

Definido como prioritário para a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) -lei que prevê a redução na geração de resíduos e a destinação ambientalmente adequada de rejeitos-, o descarte de medicamentos domésticos cria novas oportunidades de negócio no País. Empresas brasileiras jovens, como a BHS Brasil Health Service e a Ecofármacos, apostam na logística reversa e já colhem bons resultados. Já a americana Stericycle chega com apetite voraz, tendo adquirido 27 empresas em menos de três anos de presença em território nacional.

Descarte consciente

A empresa de equipamentos para a área de saúde BHS Brasil Health Service iniciou em novembro de 2010 o projeto Descarte Consciente e já tem seus coletores de medicamentos implantados em 11 estados, em lojas de grandes redes do varejo, como Panvel, Walmart, Droga Raia e Carrefour. “Em mais de 120 cidades, há mais de 330 pontos de coleta; nestes dois anos coletamos 27 toneladas de medicamentos e 12 toneladas de embalagens”, conta o pesquisador e coordenador acadêmico da BHS, Joe Roseman.

No ponto de coleta, o consumidor leva seus medicamentos para descarte, passa os produtos para leitura de código barras e recebe instruções para rasgar bula e embalagem. Comprimidos e pomadas são descartados em uma urna, e líquidos e sprays, em outra. Quando as urnas estão cheias, o farmacêutico lacra e pesa o lote, e as informações quanto ao conteúdo são enviadas a um servidor. A empresa de coleta então recolhe o material para levá-lo à sua destinação final, que varia de acordo com o município. Em São Paulo, por exemplo, ele é incinerado; em Porto Alegre, é destinado a aterros sanitários classe I.

“Enquanto não houver uma legislação federal contundente, os estados e municípios vão se adaptando na medida de suas possibilidades. Hoje são mais de 120 os que implementaram, mas o Brasil tem 5.565 municípios”, diz Roseman, sobre o potencial de expansão do negócio. O modelo ainda não é lucrativo, nem há uma meta recuperação do investimento inicial. “Até o momento investimos mais de R$ 1 milhão e o programa vem crescendo, movimentando valores interessantes, mas ainda não trouxe lucro”, afirma o pesquisador. Segundo ele, além de ser referência para a implantação da logística reversa de medicamentos no Brasil, a empresa já foi procurada por dois países para apresentar o modelo.

Coprocessamento

O aproveitamento dos resíduos de medicamentos na produção de cimento é uma alternativa à incineração e ao descarte em aterros sanitários. A Ecoblending surgiu em 2007 para atender à cimenteira Cimpor (hoje parte do grupo Camargo Corrêa), fazendo o gerenciamento e transporte de resíduos perigosos utilizados no coprocessamento. Em dezembro de 2011, foi criada uma nova unidade industrial para atender especificamente à indústria farmacêutica, de cosméticos e de higiene e limpeza goiana.

“No coprocessamento, parte do combustível utilizado no forno que transforma calcário e argila em clínquer, matéria-prima do cimento, é substituída por resíduos de outros setores industriais”, explica a gerente-técnica Larissa Velho. “Com a unidade especializada aumenta a segurança quanto à destinação adequada; nós conseguimos fazer a restituição fiscal de produtos que foram comercializados e tiveram que ser devolvidos por causa de validade, por exemplo”, conta o diretor-executivo da Ecofármacos, Sérgio Roriz de Oliveira.

O investimento na nova planta foi de R$ 1,5 milhão, e mais R$ 1 milhão deverá ser aplicado este ano para dobrar a capacidade de processamento. Atualmente são processadas entre 300 e 500 toneladas de resíduos ao mês. O grupo Ecoblending faturou R$ 18 milhões em 2011, com crescimento estimado entre 5 e 10% no ano passado. Para 2013, a expectativa é de um avanço de 15% a 20%, com a Ecofármacos sendo responsável por 30% da geração de receita.

Gerenciamento de resíduos

A empresa americana de gerenciamento de resíduos Stericycle chegou ao Brasil em março de 2010, através da aquisição de nove empresas do grupo pernambucano Serquip. “De lá para cá, nós adquirimos mais 18 empresas, e hoje contamos com 29 unidades de processamento espalhadas no País inteiro”, conta o gerente-corporativo Fernando Bustamante. “Continuamos investindo e temos como meta conseguir 100% do mercado de processamento de resíduos de serviços de saúde, mesmo sabendo que este é um objetivo difícil”, conta.

Até o momento, os investimentos da empresa no Brasil passam de US$ 100 milhões, segundo Bustamante, e mais US$ 150 milhões poderão ser destinados à nova fase de aquisições, a serem realizadas em dois anos. Dentre os serviços oferecidos, está o sistema de coleta, tratamento e destinação de perfurocortantes e resíduos de medicamentos, que a empresa acredita ter grande potencial de crescimento com a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

“A tendência com a nova política é que os negócios cresçam. Lixo hoje é dinheiro, e é isso que atraiu o grupo para o Brasil, que, nesse sentido, é um país virgem”, diz o executivo. Embora o volume de resíduos de medicamentos domésticos seja pequeno perto do total processado pela empresa, o gerente acredita que participar da política pode contribuir para consolidar a imagem da companhia no País. “Esse trabalho não será significativo no faturamento, mas participar do processo será importante para que a empresa se torne conhecida no País como uma referência em gestão de resíduos “, afirma.

Edital deverá ser publicado até o mês de março

28/01/2013 – DCI

Em março deverá ser publicado o edital de chamamento para a apresentação de propostas de acordo setorial para a implantação da logística reversa para resíduos domésticos de medicamentos, segundo prazo estipulado pelo Comitê Orientador para Implementação de Sistemas de Logística Reversa.

O sistema deverá seguir o princípio do “poluidor pagador”, arcando com os custos a indústria farmacêutica, como forma de estimular a redução da geração de resíduos. Estudo de viabilidade realizado pelo Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (Neit), da Unicamp, estima que o Brasil precisaria coletar 12,6 mil toneladas de resíduos de medicamentos ao ano, de 42 mil farmácias em todo o País.

O programa teria implementação progressiva, priorizando as 285 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. Elas representam 52% dos municípios brasileiros e somam 6,7 mil toneladas de medicamentos descartados ao ano. “A um custo médio de R$ 8,50 por quilo, chegaríamos a R$ 57 milhões por ano para o processamento de 6,7 mil toneladas”, calcula o coordenador do estudo, Célio Hiratuka, segundo quem o transporte deverá representar o maior custo do sistema.

Fonte: DCI – 28/01/2013